Furos no céu

E se as estrelas fossem pequenos furos no céu?

O céu seria uma grande peneira! Será que a água da chuva escorre por esses furinhos?

Apóstolo que João teria escrito isso no evangelho se não estivesse tão encantado com as belezuras que viu lá em cima.

Olhou tanto pra cima que se esqueceu de olhar nos buraquinhos que pisava. De onde vem a água que escorre por eles? Será que vem do tal rio da vida? Por que rio da vida? Tá vivo? Será que ele corre igual aos que temos aqui em baixo? Será que a água dele conversa com as pedras quando passa por elas? Por que rio da vida? Da vida de quem? Dá vida pra quem? Eu rio da vida pra viver feliz!

Eu queria ver essa água dançar. Dançar a dança da corredeira na correria da correnteza. Queria ver quando ela chega no fim do escorregador molhado e pula do penhasco pra nos mostrar seu véu de noiva. E depois ela segue. E pra onde vai? Ela vai se casar com o mar. Ah, Seu Omar! Grande homem! Ele vai se unir com sua esposa e ambos serão um só. Ele tão salgado, ela tão doce.

Uma vez me disseram que os opostos se atraem. Outra vez, que os opostos se distraem. Na verdade, os opostos dispostos se atraem até se atarem no matrimônio. E serão iguais à água dançante e o mar, seu Omar!
Nesse casamento eu não vi o padre, nem o pastor, nem o juiz. A noiva caiu do céu e pulou do penhasco. São bons motivos pra eles não irem. Mas e o juiz? Ah, lembrei! Hoje é domingo. E já se passou das quatro da tarde.

O casamento durou a noite toda. Será que alguém olhou pelos furinhos lá de cima? O casamento durou a noite toda. A água dançante uniu-se com o mar, seu Omar. E pela manhã nasceu o sol. Ele já nasceu com febre. Às vezes tem o temperamento da mãe, às vezes, o temperamento do pai. Mas sua temperatura sempre é alta.

Às vezes nunca sei se "as vezes" leva crase. Às vezes nunca sei em que ponto acaba a frase. Os engenheiros dessa praia não me ensinaram.

E lá se vai o sol. Ele tá subindo, indo pra longe dos pais. Pra onde ele vai? Será que um dia ele volta? Ele quer conhecer o lugar de onde a mãe dele caiu. Mas os buraquinhos sumiram. Será que alguém os carregou em alguma sacola? O sol vai correr todo o céu, o dia todo procurando, até um dia, de dia, encontrar. Ele está no meio do caminho, mas não encontrou nada. Está muito alto, longe de casa e a febre parece estar pior. 

É melhor continuar a jornada. No fim do dia o filho pródigo voltou pra casa, pra junto dos pais, pela porta dos fundos. Sua mãe não o deixa sair a noite. Mas no outro dia ele vai poder sair pra procurar os buraquinhos do céu, isso vai acontecer até ele encontrá-los.

Pra acabar essa história só precisa mesmo de um ponto final.




Eliab Alves Pereira


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